sábado, 17 de maio de 2025

O ETERNO DESAGUAR DE OCEANOS EM PLANÍCIES E MONTANHAS

Sobre a doação que flui, o encontro com o outro e a arte de se doar 

Assim como a água do oceano, a doação de sentimentos, de energia, de tempo, flui de nós para o mundo. Ela busca um lugar para desaguar, para tocar, para se manifestar. Não exige que a montanha se torne oceano em troca; apenas flui. A doação genuína, em sua forma mais pura, 'DA JANELA DO MEU OLHAR', nasce de uma plenitude interior. Ela é um transbordar. O amor  não exige reciprocidade, Se há exigência, há uma "paga", uma "condição", e não o fluir livre do sentimento. Isso é um ato de liberdade e de autenticidade. O oceano não se esgota ao desaguar; ele se renova em seu próprio ciclo. Da mesma forma, quem doa de um lugar de plenitude não se sente esvaziado se não houver um retorno imediato ou esperado. É certo que, cada um vive sua própria jornada e possui seus próprios rios e secas e o encontro com o "Terreno" do Outro, com as Planícies ou Montanhas podem por vezes nos frustrar do que almejamos para nossas expectativas nas trocas amorosas pois nem todo terreno está preparado para absorver a mesma quantidade de água; nem toda pessoa está emocionalmente disponível ou disposta à reciprocidade no mesmo nível ou no mesmo momento.

Da mesma forma como a água do nosso oceano emocional deveria desaguar em terrenos disponíveis, há muitos rios que deságuam em oceanos dispostos à entregas genuínas, e não pode não se tratar de uma questão de ensinar o como, mas sim adequação da fluidez. Entendem a dinâmica? Por vezes tendemos a julgar o quão injusta é a vida ao nosso oceano, mas não cegamos o olhar aos rios que possivelmente estejam dispostos a se unir em nossa correnteza emocional, estarmos atentos a estas nuances é importante, a vida nos mostra através das vivências que à vezes, quer seja oceano, quer seja rio, chegue à determinada planície ou montanha, o solo destas podem não estar precisando deste nutriente no momento, ou até mesmo não esteja preparada para suportar tamanha onda de entrega, até mesmo, se cultivando algum "sistema" específico, para melhor aproveitamento e crescimento, é um solo mais seco que propiciará esse resultado.  Sob os véus da noite, é que estão os "orvalhos" de cada pessoa não sabemos nem das nossas "pororocas" internas, dadas as flutuações emocionais que vivenciamos, o que nos dificulta essa compreensão no outro? Talvez ela não esteja no "ciclo" de doar ou receber da mesma forma. Há quem simplesmente tenha uma forma diferente de expressar afeto ou gratidão. Sem mencionar os ciclos de defesa, ora, o "terreno" do outro pode ter barreiras invisíveis que impedem a água de fluir.

É importante observarmos a sutileza da linha em que a doação se torna uma "troca" seja de afeto, de atenção, de reconhecimento, ela perde sua pureza. Entendo que é deveras desafiador o ato de doar sem esperar e a autonomia da Alma no exercício do ato de desapego  na doação se apresenta como uma virtude quase que transcendental, pois continuar a desaguar sem condicionar o fluxo à forma do terreno exige um profundo autoconhecimento e um desapego do resultado que os corações desejosos de afeto mais que sangue para bombear ao corpo suplicam...Fato é Caríssimo leitor, é que a nossa alma (nosso "oceano") não depende da resposta externa para ser vasta e cheia. A doação é um ato de liberdade pessoal, não de barganha. E essa compreensão nos liberta da frustração e do ressentimento nos permitindo que essa nossa disposição de nos doarmos se mantenha em sua plenitude, sem nos esvairmos na expectativa de um retorno que pode não vir. 

'DA JANELA DO MEU OLHAR' O equilíbrio e a gratidão no desaguar reside na beleza do fluxo contínuo, assimilar essa premissa e nos permitirmos sentir, tão somente sentir, por sermos capazes de sentir amor por si só já seria a paga de existirmos com essa essência tão Sublime quanto opressora, pois a vida é um eterno desaguar e absorver, em diferentes ritmos e formas. A nossa riqueza está em termos um oceano interior capaz de transbordar, independentemente da forma como a água é recebida ou não! E carregar esse entendimento nos fortalece sem a necessidade de afirmarmos, principalmente, a famigerada frase que não faz mais que traduzir uma frustração de um ego não lapidado com o desejo de equivalência que jamais será alcançada: "Foi livramento". PS:  Quem garante que na verdade foram os "astros" livrando aquela planície ou montanha do tsunami devastador que somos nós?


E Da Janela do seu Olhar?

E você, como tem vivenciado o seu próprio desaguar? 

Quais rios e oceanos fluem da sua alma sem exigir que o terreno se transforme em espelho?

Até breve...

J.L.I Soáres

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