No Écran que irradia efêmero fulgor,
Dedo crispado detona fúria e horror,
"A IA usurpa!", sentencia o ignaro,
No líquido cristal de seu “caro” amparo.
Desliza a córnea, em indolente mirar,
Tesla temida, em secreto cobiçar,
"Autômatos nos findam!", profere o indocto,
Com pulseira biônica, ao braço absorto.
E a IA não brota do éter sideral,
É o intelecto humano, em esforço cabal,
A moldar o código, a traçar o caminho,
O bem ou o mal, na escolha o alinho.
Tanto se critica, com fervor e afã,
Mas sorve-se da fonte, manhã após manhã!
E a essência humana, em filtro digital,
Se molda, inadvertida, ao brilho espectral.
Se a máquina ameaça, o espelho ali está,
A desumanidade inata a mazela bailar,
Pois o homem, em essência falível e cruel,
Tece tragédias, sem auxílio de pixel ou kernel!
A responsabilidade clama, em tom visceral,
O futuro da IA, em nosso ethos real,
Se o abismo nos mira, não é culpa do metal,
Mas da alma sombria, em seu intento letal!
Dizei-me, ó vós, de temor tão profundo,
Se a IA vos impele a buscar o estudo,
Não percebeis, talvez, no esforço vizinho,
O espelho da jornada, o evoluir do caminho?
Oh, preguiçoso moderno, de saber esquivo,
Achas árduo o estudo, do novo cultivo,
Mas busca a aspirina, no súbito desespero,
Éh…boldo no quintal, já não há esse parceiro.
Sua prole não viu a parteira paciente,
Mas sorriu extasiado, no écran tridimensional,
Do ultrassom 3D: a tecnologia, afinal!
E no leito de dor, face à sina cruel,
Clamará por socorro, rompendo o cordel.
Da retórica vã, da crítica insensata,
Na IA salvadora, esperança imediata!
(J.L.I Soáres)
Nota da Autora:
Neste poema em forma livre eu exploro o medo do desconhecido que sempre habitou o âmago humano, mas em nosso tempo, ele ganha uma nova face: a da Inteligência Artificial. Este poema, "A Cr(IA) no Cr(IA)dor", é um convite à reflexão sobre a nossa própria responsabilidade na criação, sobre o medo que nos impede de evoluir e sobre o reflexo de nossa humanidade — para o bem e para o mal — no espelho da tecnologia. Mergulhe fundo.
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