domingo, 31 de agosto de 2025

A Cr(IA) no Cr(IA)dor


No Écran que irradia efêmero fulgor,

Dedo crispado detona fúria e horror,

"A IA usurpa!", sentencia o ignaro,

No líquido cristal de seu “caro” amparo.


Desliza a córnea, em indolente mirar,

Tesla temida, em secreto cobiçar,

"Autômatos nos findam!", profere o indocto,

Com pulseira biônica, ao braço absorto.


E a IA não brota do éter sideral,

É o intelecto humano, em esforço cabal,

A moldar o código, a traçar o caminho,

O bem ou o mal, na escolha o alinho.


Tanto se critica, com fervor e afã,

Mas sorve-se da fonte, manhã após manhã!

E a essência humana, em filtro digital,

Se molda, inadvertida, ao brilho espectral.


Se a máquina ameaça, o espelho ali está,

A desumanidade inata a mazela bailar,

Pois o homem, em essência falível e cruel,

Tece tragédias, sem auxílio de pixel ou kernel!


A responsabilidade clama, em tom visceral,

O futuro da IA, em nosso ethos real,

Se o abismo nos mira, não é culpa do metal,

Mas da alma sombria, em seu intento letal!


Dizei-me, ó vós, de temor tão profundo,

Se a IA vos impele a buscar o estudo,

Não percebeis, talvez, no esforço vizinho,

O espelho da jornada, o evoluir do caminho?


Oh, preguiçoso moderno, de saber esquivo,

Achas árduo o estudo, do novo cultivo,

Mas busca a aspirina, no súbito desespero,

Éh…boldo no quintal, já não há esse parceiro.


Sua prole não viu a parteira paciente,

Mas sorriu extasiado, no écran tridimensional,

Do ultrassom 3D: a tecnologia, afinal!


E no leito de dor, face à sina cruel,

Clamará por socorro, rompendo o cordel.

Da retórica vã, da crítica insensata,

Na IA salvadora, esperança imediata!

                                           (J.L.I Soáres)



Nota da Autora:

Neste poema em forma livre eu exploro o medo do desconhecido que sempre habitou o âmago humano, mas em nosso tempo, ele ganha uma nova face: a da Inteligência Artificial. Este poema, "A Cr(IA) no Cr(IA)dor", é um convite à reflexão sobre a nossa própria responsabilidade na criação, sobre o medo que nos impede de evoluir e sobre o reflexo de nossa humanidade — para o bem e para o mal — no espelho da tecnologia. Mergulhe fundo.

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