quinta-feira, 17 de março de 2022

A IMPLACÁVEL PROVA DA ALQUIMIA DA ALMA

Por sermos eternos rascunhos

A Alquimia, em sua essência mais profunda, sempre foi a busca incansável pela transmutação do imperfeito no perfeito. Longe da quimera de transformar chumbo físico em ouro material, essa arte milenar sempre apontou para uma verdade muito mais sublime: a capacidade de refinar a própria substância, de purificar o que é bruto em algo de valor inestimável. A Alquimia é a arte de transformar as coisas com a ajuda da natureza, e essa natureza se manifesta em múltiplas dimensões: no plano material, na substância dos nossos hábitos e da nossa saúde; no plano mental, na lapidação dos nossos pensamentos e crenças limitantes; e no plano espiritual, na purificação dos nossos desejos e intenções, expandindo a consciência. A verdadeira transformação é o coração da Alquimia.

Essa nossa "tortuosa" busca pela excelência interior não é aleatória; ela se baseia em leis universais, processos que, assim como a ciência busca entender os fenômenos naturais, nos convidam a decifrar a dinâmica da nossa própria transformação. Desde as civilizações antigas – Egípcios, Romanos, Mesopotâmia, Persas – essa ânsia por transmutação é universal e atemporal. O Hermetismo, fundamentado em estudos espirituais, astrológicos e metafísicos, com Hermes Trismegisto, o 'Três Vezes Grande', como figura central, nos ensina que essa filosofia é mercurial: o elemento mercúrio está sempre associado a outro elemento no universo, uma ponte para a ideia de interconexão, de fluidez. É uma visão interna da essência divina, que não se prende a dogmas esotéricos, mas abraça a busca por autoconhecimento rigoroso, disciplina e a coragem de enfrentar as próprias 'sombras' e imperfeições.

Os princípios herméticos – Sal, Enxofre e Mercúrio – oferecem a 'ciência' dessa Alquimia Interior. O Sal representa o corpo físico, a matéria densa que precisa ser refinada em hábitos e presença. O Enxofre é a alma, o espírito, o desejo, a paixão que impulsiona, que clama por purificação de intenções e emoções. E o Mercúrio é a mente, a consciência, a inteligência, o discernimento – a ponte que une corpo e alma, lapidando crenças limitantes para expandir a percepção. A transformação do 'chumbo em ouro' no plano humano é, portanto, transmutar o corpo em vitalidade, a alma em pureza de intenções, e a mente em clareza e sabedoria.

E quanto ao desejo cego de 'manipular' a realidade? Aquela velha ilusão da materialização sem burilamento, que muitas vezes, sem a compreensão da Alquimia como autoaperfeiçoamento, nos atraem quer seja pelo "pensamento mágico", pela busca por 'atalhos' ou pelas 'soluções mágicas' que prometem resultados externos sem o trabalho interno?! Quantos de nós já buscamos fórmulas prontas para materializarmos o que queremos, ignorando a própria energia que emanamos? As abordagens populares, sem que sejam julgadas em si mesmas, que por vezes prometem 'atrair', 'manifestar' ou 'manipular energias' para obter resultados externos – dinheiro, relacionamentos, sucesso – sem exigir uma transformação interna prévia.

Em todo esse cenário, a Lei de Causa e Efeito, um princípio universal, se faz presente: 'Toda causa tem seu efeito, todo efeito tem sua causa.' A 'causa' primordial para a materialização não reside em rituais vazios ou em pensamentos superficiais, mas na energia interna e no nível de autoconsciência. 'DA JANELA DO MEU OLHAR', se a energia que emanamos está 'suja' de autoengano, de um ego inflado e de fugas da realidade, a 'materialização' será também um rascunho, uma ilusão, ou até mesmo um sofrimento disfarçado. A busca por resultados externos sem o autoconhecimento pode ser uma projeção, uma fuga da responsabilidade individual – a ilusão de que o 'universo' ou 'magia' fará o trabalho por nós.

'ACORDEMOS!': Será que estamos pedindo ao universo para construir um castelo com areia movediça? A verdadeira magia não está em manipular o externo, mas em transmutar o interno. A materialização é um reflexo do Ser, não de um feitiço. Compreendermos que a 'miséria humana' não se erradica com meras intenções, mas com a lapidação da própria substância, já é sabedoria popular consolidada que este é o primeiro passo para a verdadeira Alquimia da Alma. Viver como um 'rascunho' tem um preço alto. O custo da não perfeição aceita, essa busca incessante por uma imagem externa de completude, nos leva a esconder quem realmente somos e a não reconhecer a beleza e a potência nas nossas próprias falhas e nos processos da vida. A angústia existencial da liberdade não exercida se manifesta no peso de um ego em busca de validação constante. É como se nos vendessem uma perfeição inatingível, e a comprássemos, dia após dia, com nossa energia, nossa autenticidade e, por fim, nossa própria vida. 

Qual o custo real de viver uma fantasia?

Cada mentira que contamos a nós mesmos, cada fuga da nossa verdade, é um tijolo a mais no muro da nossa própria prisão. A autenticidade não é um luxo, é a nossa liberdade. A maior prisão não é o que os outros veem, mas o que nos recusamos a ver em nós mesmos. A cada falha mascarada, apagamos uma parte da nossa própria luz. Observo em mim mesma – e não sem uma boa dose de autoironia – a tendência de vestir personas, de sorrir quando a alma sangra, de mostrar uma 'fortaleza' que não nem sempre é real. Essa encenação, por mais que buscasse proteger vulnerabilidades ou se adequar a expectativas sociais, me afastava da minha verdade mais profunda. A energia gasta em sustentar esses véus é imensa e, ironicamente, mina a força que reside na vulnerabilidade autêntica.

É hora de pararmos de fugir do espelho. Nosso ego, obeso de elogios vazios, nos aprisiona numa gaiola dourada. E a arte, que deveria libertar, vira mais uma cela para fugir de nossa essência. Quanto tempo mais vamos desperdiçar fugindo do espelho, da confrontação com a nossa própria sombra? Quando iremos aprender que a liberdade emerge quando ousamos despir a alma, mesmo que isso exponha o que tememos confrontar em nós mesmos e no outro. Esse não seria o caminho para transformar o rascunho em uma obra-prima? 'DA JANELA DO MEU OLHAR', e, convenhamos, todos conhecemos essa premissa (só não internalizamos), a obra-prima não surge por mágica, mas pela coragem diária de lapidar o que há de mais bruto em nós. Não esperemos um 'mestre' externo; somos o alquimista da nossa própria alma. A 'COR+AGEM' de agir com o coração é o primeiro passo para rompermos com os paradigmas que nos afastam de nossos sonhos genuínos. Que tal pararmos de tentar ser farol na escuridão alheia antes de iluminar nossa própria 'ETERNA NOITE ESCURA DA ALMA'. 'DA JANELA DO MEU OLHAR', a maior contribuição é ser quem somos, de forma autêntica e íntegra.

Como afirma a sabedoria ancestral 'matar o mal em ti' – as impurezas, o ego, as projeções narcísicas – para que a integridade se manifeste. Reconheçamos a responsabilidade de tomar nossa 'máscara de oxigênio' primeiro; pois só a partir da própria plenitude poderemos transbordar de forma genuína. A  Alquimia exige auto-observação rigorosa, disciplina e coragem para enfrentar as próprias 'sombras' e imperfeições. É um chamado à autenticidade existencial, à responsabilidade individual pela própria obra. Internalizemos a máxima de que continuar sendo um 'rascunho' perdido na 'miserável condição humana', alimentando o ego e fugindo da verdade ou podemos escolher, AGORA, iniciar a alquimia que transformará o caos em ouro. A escolha sempre foi nossa. Quanto tempo mais procrastinaremos nossa própria vida?

Porque;

Caríssimo leitor, ser um 'rascunho' não é uma falha, mas a condição humana em constante processo de 'alquimia', um convite à auto lapidação contínua. Nossa jornada de transformação é contínua e o conhecimento é a chave para a liberdade. Não existe um ponto final para a Alquimia interior. Cada novo insight, cada desafio superado, é uma nova camada da nossa obra-prima individual em desdobramento. Abracemos portanto, a imperfeição, celebremos a jornada e continuemos a lapidar nosso Ser. Não somos um produto final, mas uma obra em constante construção. A cada escolha consciente, a cada véu desvelado, lapidamos nossa alma. A jornada é agora, e o universo aguarda nossa mais autêntica manifestação!


E 'Da Janela do seu Olhar';

Você tem se permitido a coragem de olhar para o seu próprio rascunho, sem fugir das suas 'imperfeições'?

Quais 'ilusões' ou 'atalhos mágicos' você tem buscado para materializar seus desejos, em vez de investir na alquimia interior?

Em que medida sua 'miséria humana' pode ser a matéria-prima mais rica para a sua própria obra-prima em constante construção?


Ate breve...

J.L.I Soáres


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