domingo, 31 de agosto de 2025

A Cr(IA) no Cr(IA)dor


No Écran que irradia efêmero fulgor,

Dedo crispado detona fúria e horror,

"A IA usurpa!", sentencia o ignaro,

No líquido cristal de seu “caro” amparo.


Desliza a córnea, em indolente mirar,

Tesla temida, em secreto cobiçar,

"Autômatos nos findam!", profere o indocto,

Com pulseira biônica, ao braço absorto.


E a IA não brota do éter sideral,

É o intelecto humano, em esforço cabal,

A moldar o código, a traçar o caminho,

O bem ou o mal, na escolha o alinho.


Tanto se critica, com fervor e afã,

Mas sorve-se da fonte, manhã após manhã!

E a essência humana, em filtro digital,

Se molda, inadvertida, ao brilho espectral.


Se a máquina ameaça, o espelho ali está,

A desumanidade inata a mazela bailar,

Pois o homem, em essência falível e cruel,

Tece tragédias, sem auxílio de pixel ou kernel!


A responsabilidade clama, em tom visceral,

O futuro da IA, em nosso ethos real,

Se o abismo nos mira, não é culpa do metal,

Mas da alma sombria, em seu intento letal!


Dizei-me, ó vós, de temor tão profundo,

Se a IA vos impele a buscar o estudo,

Não percebeis, talvez, no esforço vizinho,

O espelho da jornada, o evoluir do caminho?


Oh, preguiçoso moderno, de saber esquivo,

Achas árduo o estudo, do novo cultivo,

Mas busca a aspirina, no súbito desespero,

Éh…boldo no quintal, já não há esse parceiro.


Sua prole não viu a parteira paciente,

Mas sorriu extasiado, no écran tridimensional,

Do ultrassom 3D: a tecnologia, afinal!


E no leito de dor, face à sina cruel,

Clamará por socorro, rompendo o cordel.

Da retórica vã, da crítica insensata,

Na IA salvadora, esperança imediata!

                                           (J.L.I Soáres)



Nota da Autora:

Neste poema em forma livre eu exploro o medo do desconhecido que sempre habitou o âmago humano, mas em nosso tempo, ele ganha uma nova face: a da Inteligência Artificial. Este poema, "A Cr(IA) no Cr(IA)dor", é um convite à reflexão sobre a nossa própria responsabilidade na criação, sobre o medo que nos impede de evoluir e sobre o reflexo de nossa humanidade — para o bem e para o mal — no espelho da tecnologia. Mergulhe fundo.

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A ALMA NÃO TEM SEGREDOS QUE O COMPORTAMENTO NÃO MANIFESTE

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sábado, 28 de junho de 2025

A ALMA NÃO TEM SEGREDOS QUE O COMPORTAMENTO NÃO MANIFESTE

 Mais que uma constatação, um convite à introspecção mais brutal: A verdade do Ser não se cala!


“Inútil disfarce, vã é a ilusão.
A alma se mostra na ação.
No gesto, no olhar, na voz que cala,
O comportamento fala, em pura revelação.
Não há véu que a verdade não transpasse,
O Ser autêntico, sempre, se revela.”

Mesmo quando a mente se entrega ao autoengano ou quando a persona busca ocultar a sombra, a alma encontra sua vazão. Cada gesto, cada escolha, cada omissão é um espelho nu do que reside no íntimo, revelando não apenas o que se mostra, mas o que verdadeiramente pulsa. É a eloquência silenciosa do Self, que não pode ser contida, pois em sua essência, a alma não tem véus que o comportamento, em sua autenticidade, não transponha. 

As ações, no fim, são a linguagem mais honesta do que somos. Por mais que tenhamos as "máscaras" como recursos úteis, o que chamamos de: "ato falho", muitas vezes é a nossa Alma entregando nossa essência, aquela verdade em nós que pelas normas sociais, dogmas, crenças, caráter ou falta dele...fato é que, para os olhares mais atentos, é possível extrairmos muitos aprendizados, e principalmente, para os que gostam, e esta que vos fala, sim, confesso eu amo! 

Apesar dos desencantos, ler os contos do comportamento humano que nos fazem, um tanto tontos e nem sempre prontos a costurar os pontos e desvelar (por vezes) em prantos as intenções nas conexões humanas ...Ahhhh eu também amo a rima....rsrs

Afinal, ao nos depararmos com as incongruências entre o verbo nem sempre bem conjugado, tanto em atenção às regras do vernáculo quanto às ações dissonantes, eu gosto de trazer musicalidade para dar melodia e porque não potencializar o encanto do conto?... 

Essa observação atenta do comportamento humano nos leva a ponderar sobre a natureza de nossas interações cotidianas. Ao cumprimentarmos alguém, será que realmente nos conectamos com o universo que a pessoa está a experienciar, ou mergulhamos em disputas sutis para afirmar o quanto nosso dia está sendo pior do que o do outro? Entendo que essa conduta é deveras encarada como uma forma de demonstrar “empatia”, mas essa manifestação é, muitas vezes, uma forma distorcida da real intenção que reside nas conversas. Ora, vocês bem sabem, eu já externei que tenho apreço pelos experimentos sociais. E faça o teste: dê bom dia a alguém e demonstre insatisfação sobre determinada situação. Observe: haverá uma atenção efetiva à vossa questão? Ou, após a validação imediata, terás um relato tão fatídico quanto o seu? O que entendo por empatia é o aprofundamento da tua perspectiva, um verdadeiro mergulho no universo do outro.

Caríssimo Leitor, quão profundo está o nosso abismo nas DES-Conexões? Há milhares de anos, o que era para ser uma virtude tornou-se necessário ganhar Artigo de Lei, vide a parábola bíblica do bom samaritano. Em nosso contexto social, a empatia ganhou outra roupagem, afinal é importante estarmos na moda... e por que não no que tange às virtudes?

'DA JANELA DO MEU OLHAR', a Linguagem Silenciosa do Comportamento: O Verbo que a Alma De Fato Conjuga. Prosseguindo em nossa jornada pela compreensão da alma através do comportamento, deparamo-nos frequentemente com um paradoxo intrigante nas relações humanas: o hiato entre o que é verbalizado e o que é, de fato, manifestado pelas ações. A alma, em sua verdade mais crua, não se rende a disfarces. Ela se expressa não apenas nas palavras, mas, sobretudo, na ausência ou na presença de um movimento, na fluidez ou na estagnação de um vínculo. Em uma de minhas vivências recentes, durante uma conversa que buscava trazer clareza sobre um certo interesse e um potencial comprometimento, percebi a força dessa verdade silenciosa. Por mais que o diálogo fluísse, e por mais que eu empregasse todo o meu arsenal intelectual – lançando mão de perguntas perspicazes, analogias e reflexões que, acreditava eu, conduziriam a uma resposta explícita e a um posicionamento claro –, a demonstração de interesse e o compromisso buscados simplesmente não se materializavam em atos.

A conversa, embora rica em palavras e acenos de compreensão, se esvaziava em compromissos concretos. Era como se, por um lado, o interlocutor estivesse disposto a acompanhar o raciocínio e a dar vazão à interação, mas por outro, seu comportamento – a falta de uma iniciativa tangível, a ausência de um "sim" irrestrito na prática – gritasse uma verdade diferente. A alma, ali, se revelava não no que se dizia, mas no que se deixava de fazer. Essa dinâmica, comum a tantos encontros e desencontros, reforça a máxima que nos guia:

 "A ALMA NÃO TEM SEGREDOS QUE O COMPORTAMENTO NÃO MANIFESTE". 

O que realmente somos e o que verdadeiramente queremos, muitas vezes, é escrito nas entrelinhas de nossas ações, ou na inação que, por si só, já é uma poderosa declaração. Os véus que a mente tenta tecer para proteger, adiar ou mascarar uma verdade, são inevitavelmente rasgados pela clareza nua e crua do comportamento.

AS FALAS FALHAS

São o meu Laboratório da Alma: Entre os Silêncios, Atos Falhos e a Interpretação do Ser! É bem verdade que, após vivenciar dinâmicas como essa — a incongruência entre o verbo e o gesto —, confesso que a amo. Não por um apreço ao desencontro, mas porque consigo, em alguma medida, transformar essas experiências em meu próprio laboratório de compreensão sobre a condição humana. Elas são lentes brutais para a introspecção, convidando-nos a desvelar as camadas mais profundas do Ser.

Nesse cenário, naturalmente me calei. Compreendo que aquilo que à primeira vista parecia uma falta de comprometimento ou um véu impenetrável da alma do outro, talvez fosse, para aquele momento da vida da pessoa, um recurso de autopreservação ou simplesmente uma clara indicação de que o que eu buscava não se alinhava aos seus desígnios. Antes essa possibilidade, o silêncio se fez a resposta mais respeitosa. E aqui, a sabedoria adquirida através dos meus estudos e observações principalmente das minhas experiências, ecoa poderosamente. Não saber ao certo o que o outro queria, o que a palavra não expressou, abre espaço para a interpretação de seus atos. O que chamamos de "Fala Falha" — ou, em um contexto mais amplo, um comportamento falho em relação ao que é verbalizado — não é um erro casual. É a alma falando por entre as frestas da consciência, revelando uma verdade que a palavra, por algum motivo, não conseguiu ou não quis expressar. Onde o dito falha, o feito (ou o não-feito) revela. 

É na brecha da incongruência que a verdade mais íntima do Ser se manifesta, convidando os olhares atentos a uma profunda e, por vezes, dolorosa, compreensão.

E 'Da Janela do seu Olhar';

Você já se deparou com a eloquência silenciosa do comportamento, seja em si mesmo ou nos outros?

Em que momentos suas ações falaram mais alto que suas palavras? E o que elas revelaram?

Como você tem interpretado os "atos falhos" em suas próprias relações?

Diante das DES-Conexões do mundo moderno, qual o seu papel na busca por uma empatia mais genuína e menos "na moda"?


Até breve...

J.L.I Soáres


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sábado, 21 de junho de 2025

OS MERCADORES DA ALMA

Os Vícios Redibitórios nas Conexões Humanas

Da janela do meu olhar, as interações humanas frequentemente se revelam um labirinto fascinante, complexo e, por vezes, exaustivo. Buscando compreender as sutilezas que permeiam nossos vínculos, mergulhei em uma análise profunda de uma dinâmica que, embora particular, espelha padrões universais da psique.

Em essência, a vida relacional moderna muitas vezes se assemelha a uma transação, onde nos apresentamos como "Mercadores da Alma". Oferecemos partes de nós mesmos – nossas ideias, nossa energia, nossa presença – esperando uma troca. Contudo, essa "negociação" raramente é explícita. Ela opera sob o domínio de um Contrato Tácito, um acordo invisível de expectativas não verbalizadas e de promessas implícitas.

A grande armadilha, e o cerne de muitas frustrações, reside nos Vícios Redibitórios. Assim como em um contrato jurídico, onde defeitos ocultos podem comprometer a utilidade de um bem, nas conexões humanas, as inseguranças, os medos não confessados, as defesas psíquicas e as feridas do passado agem como "vícios redibitórios" de nossa persona. Eles são as camadas, as "máscaras" que nos impedem de nos apresentarmos de forma genuinamente despida, gerando uma constante sensação de "jogo" e de falta de autenticidade.

Nessa dança complexa, observamos que o interesse nem sempre se traduz em comprometimento. Há quem invista uma quantidade considerável de energia intelectual e emocional – através de conversas elaboradas, elogios profundos e flertes poéticos – mas com um propósito diferente do que se poderia esperar. Esse investimento pode servir para manter o outro engajado, para alimentar um fascínio intelectual, ou até para satisfazer um desejo de exercer um certo tipo de "influência" ou "submissão" sobre a mente alheia. A ideia de que "se entrega o ouro, perde o prêmio" é uma tática comum, onde a ambiguidade é mantida para que o "prêmio" (o engajamento do outro, a "anulação da razão" em um momento de entrega visceral) continue sendo um desafio a ser conquistado.

A busca por uma conexão verdadeiramente despida de máscaras anseia por uma correspondência entre o discurso e a ação. Quando alguém expressa um intenso desejo e admira as virtudes do outro, a expectativa natural é por um engajamento que demonstre prioridade e consistência. A ausência de ações que validem essa intensidade, pode soar como uma contradição. A "fluidez" tão desejada pode, na verdade, ser estratégia para evitar compromissos claros, mantendo o "jogo" em uma zona de conforto ambígua, onde os termos do contrato tácito nunca são totalmente revelados.

Nesse cenário, a "leitura" das entrelinhas e a percepção dos "indicativos" que o outro oferece tornam-se ferramentas essenciais de autoproteção. A sabedoria reside em reconhecer que o nível de investimento e dedicação de alguém, por si só, já é um sinal de interesse genuíno, mesmo que a intenção final não seja o tipo de comprometimento que buscamos. É a compreensão de que, para algumas "mentes pensantes"...(em sua complexidade), o fascínio intelectual e a dinâmica do flerte são um fim em si, um terreno fértil para seu próprio desenvolvimento e deleite, sem necessariamente buscar um vínculo afetivo nos moldes tradicionais.

A complexidade da psique humana nos ensina que não vale a pena se desgastar tentando "ensinar" o outro a ser o que ele não é, ou a entregar o que não está pronto para dar. A interpretação, como bem disse um pensador, "entra onde a fala falha". As máscaras e as camadas são, por vezes, defesas tão arraigadas que tentar desvendá-las à força só gera desgaste. A genuína liberdade reside em aceitar o outro como ele se apresenta – com seus vícios redibitórios e seus contratos tácitos – e decidir se essa "mercadoria" se alinha com o que a sua alma busca e merece.

Ao final, a  vida nos convida a usar cada interação como um "laboratório" de aprendizado, aprimorando nossa capacidade de discernimento. Não para julgar, mas para entender as nuances do comportamento humano, proteger nossa própria energia e construir um "mosaico da psique" mais autêntico e resiliente. Pois, no grande leilão da essência, a maior vitória é a de Ser, e não apenas parecer, leal, fiel à própria verdade.


E da janela do seu olhar Caro leitor? 

Você já se pegou preso(a) em um "contrato tácito" que gerava mais dúvidas do que certezas nas suas relações? Quais eram os "vícios redibitórios" que você identificou?

Em que medida suas experiências passadas construíram "máscaras" ou "camadas" que hoje impactam suas interações?

Como você tem discernido entre o interesse genuíno e a tática de "manter o jogo" nas suas conexões?

Qual o custo de tentar "ensinar" o outro a se relacionar do seu jeito? E qual o ganho em aceitar o que o outro pode ou não oferecer, honrando sua própria energia?

Ao se deparar com a complexidade das interações humanas, você se permite usar a situação como um "laboratório" de aprendizado para o seu próprio autoconhecimento?

Compartilhe suas reflexões, pois no "mosaico da psique", cada peça adiciona uma nova dimensão à nossa compreensão coletiva.

Até breve...

 J.L.I Soáres

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MANIFESTO

sexta-feira, 30 de maio de 2025

OS PALCOS DA EVOLUÇÃO

 As performances da iluminação e a autenticidade da fé em nossa jornada de autoconsciência

Como andarilhos curiosos em meio às múltiplas vias de desenvolvimento pessoal e espiritual, temos a oportunidade de observar dinâmicas singulares. É como se a busca pela autoconsciência se desdobrasse em um grande palco, onde a complexidade da psique humana e os desafios do despertar se revelam em atos, por vezes, curiosos e quase teatrais. Nessas arenas, a distinção entre a forma e a essência do processo pode se tornar sutil, mas é crucial para quem busca a verdade.

Em alguns desses ambientes, observamos uma dualidade intrigante nos papéis. De um lado, surgem instrutores e líderes com uma persona que por vezes beira o transcendental. Com um olhar que se pretende 'cristalino', uma postura serena e uma voz que parece embalar a alma, eles se apresentam como faróis de sabedoria, personificando uma compreensão e uma paz quase etérea. É um 'ar' de quem detém o mapa da iluminação, projetando uma imagem de pura 'luz' e compaixão.

Do outro lado do palco, encontramos os alunos, os 'buscadores', que, em uma condição de vulnerabilidade, por vezes se posicionam em um 'jardim de infância' espiritual, na expectativa de serem guiados pela mão rumo a uma verdade absoluta. Há uma entrega, sim, mas também a esperança de que a transformação venha de fora, de que a 'chave da iluminação' lhes seja entregue sem o próprio labor. Essa dicotomia entre o 'mestre' idealizado e o 'aluno' que se infantiliza cria um terreno fértil para projeções e autoengano coletivo. Uma dinâmica que, 'DA JANELA DO MEU OLHAR', nos convida a indagar: será que a busca pela autenticidade se manifesta mais como performance do que como uma transformação profunda e integrada do Ser?

A vivência nos confronta com a distinção entre forma e essência, especialmente no que tange à fé aplicada. Observamos cenas que se repetem e que provocam uma reflexão sobre o sentido que damos ao 'templo' e à 'santidade'. Pessoas em situação de vulnerabilidade buscam auxílio nas escadarias das igrejas, vendo o templo como um ponto estratégico para a subsistência, não um local para a súplica divina. Isso nos lembra que a essência do 'templo' transcende as paredes físicas; ela reside em nós e, em especial, no cuidado com o outro.

A questão da vestimenta é outro exemplo dessa dualidade. Há quem se recuse a adentrar um espaço sagrado por não estar com o traje 'apropriado', perdendo a oportunidade de um momento de prece. Qual fé é mais autêntica: a que se prende à forma ou a que, talvez sem o 'traje ideal', vive a essência da compaixão? A busca por uma 'roupagem teatral' ou uma performance de santidade pode, por vezes, ofuscar a beleza de uma fé mais simples, mais nua, mais real, que se manifesta nos atos de caridade e na compaixão que se estende para além dos rituais. É o reconhecimento de que a verdade se manifesta sem necessidade de exibicionismo.

Como seres sociais, transitamos, sim, pelo 'teatro das máscaras' da vida. Adaptamos nossa 'face' a cada contexto: empresário, advogado, pai, mãe. Essa adaptação é natural e até saudável para navegar o mundo. O desafio, no entanto, surge quando a performance se torna o espetáculo principal, quando as máscaras se fundem com o rosto, e a persona, por mais 'espiritualizada' que pareça, substitui a autenticidade do Ser.

'DA JANELA DO MEU OLHAR', esses 'espetáculos' de uma santidade forçada podem causar desconforto, pois a verdade não exige tal exibicionismo. A energia gasta em sustentar esses véus é imensa e, ironicamente, mina a força que reside na vulnerabilidade autêntica. A busca pela 'miscelânea de saberes' é crucial para discernir o que é genuíno: ela nos convida a ver através das nossas próprias máscaras autoimpostas e das que nos são apresentadas, para reconhecer e valorizar aquelas manifestações simbólicas que buscam revelar uma centelha da verdade maior. A jornada, então, consiste em transitar do uso de máscaras 'para se esconder' para uma existência onde nossas expressões e papéis se tornem cada vez mais transparentes à nossa essência, revelando, em vez de ocultar, a complexidade que nos compõe em nossa humanidade integral.

Em nossa busca contínua por autoconsciência, o convite é para uma observação atenta do palco onde o despertar se encena. Que possamos discernir entre a melodia que embala e a verdade que liberta, cultivando a humildade de reconhecer a própria jornada e as próprias imperfeições. A real sabedoria, afinal, reside na congruência entre o ser e o agir, no desvelamento da alma e na coragem de viver a própria verdade, sem a necessidade de performance ou de aprovações externas.

Nessa complexa jornada de autoconsciência, onde a busca pelo despertar se confronta com as performances e as expectativas, a verdade sobre o que somos e o que aparentamos ser clama por ser desvelada. A distinção entre a forma e a essência, entre o 'mostrar' e o 'ser', torna-se um desafio constante. É nesse ponto que a arte, em sua crueza e beleza, oferece um espelho implacável.

Para uma reflexão ainda mais visceral sobre os véus que vestimos e as verdades que por vezes ocultamos em nossa busca, convido você a mergulhar nos versos de 'Máscara Divina'. Este poema, que também faz parte da minha obra 'Da Janela do Meu Olhar', é uma constatação poética sobre a hipocrisia que, por vezes, se disfarça de santidade, e a forma como a aparência pode reinar sobre a essência, ofuscando o amor e a genuína doação.


Máscara Divina
No altar da fé, a alma se veste,
Em manto de virtude, a voz se ergue em prece,
A mão se estende, a doação se manifesta,
Mas a forma se distorce, a essência se detesta.
 
O verbo divino ecoa em palavras belas,
Mas em si, se fecha em ganância e cautelas.
A caridade se veste de pompa e exibição,
Esmola aos olhos do mundo, jamais ao coração!
 
A fé se torna máscara, a virtude, ilusão,
A doação, é moeda de falsa redenção.
O irmão, semelhante, anseia por compaixão,
Mas recebe migalhas, desprezo e ostentação.
 
A hipocrisia tece um véu de santidade,
Onde a aparência reina, o amor se evade...
A forma não reflete a devoção,
É raso o que professa, transborda em contradição
                                                                            (J.L.I Soáres)

E 'Da Janela do seu Olhar';

Em sua própria jornada de despertar, você tem percebido a 'voz melodiosa' de mestres ou a 'vulnerabilidade infantil' em alunos?

Como você tem discernido a 'forma' da 'essência' em sua fé e em suas práticas de autoconhecimento?

Em que medida as 'máscaras' que você veste no dia a dia revelam ou ocultam a sua mais profunda autenticidade?

Até breve...

J.L.I Soáres

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ETERNOS BUSCADORES E AS MISCELÂNIAS

sábado, 17 de maio de 2025

O ETERNO DESAGUAR DE OCEANOS EM PLANÍCIES E MONTANHAS

Sobre a doação que flui, o encontro com o outro e a arte de se doar 

Assim como a água do oceano, a doação de sentimentos, de energia, de tempo, flui de nós para o mundo. Ela busca um lugar para desaguar, para tocar, para se manifestar. Não exige que a montanha se torne oceano em troca; apenas flui. A doação genuína, em sua forma mais pura, 'DA JANELA DO MEU OLHAR', nasce de uma plenitude interior. Ela é um transbordar. O amor  não exige reciprocidade, Se há exigência, há uma "paga", uma "condição", e não o fluir livre do sentimento. Isso é um ato de liberdade e de autenticidade. O oceano não se esgota ao desaguar; ele se renova em seu próprio ciclo. Da mesma forma, quem doa de um lugar de plenitude não se sente esvaziado se não houver um retorno imediato ou esperado. É certo que, cada um vive sua própria jornada e possui seus próprios rios e secas e o encontro com o "Terreno" do Outro, com as Planícies ou Montanhas podem por vezes nos frustrar do que almejamos para nossas expectativas nas trocas amorosas pois nem todo terreno está preparado para absorver a mesma quantidade de água; nem toda pessoa está emocionalmente disponível ou disposta à reciprocidade no mesmo nível ou no mesmo momento.

Da mesma forma como a água do nosso oceano emocional deveria desaguar em terrenos disponíveis, há muitos rios que deságuam em oceanos dispostos à entregas genuínas, e não pode não se tratar de uma questão de ensinar o como, mas sim adequação da fluidez. Entendem a dinâmica? Por vezes tendemos a julgar o quão injusta é a vida ao nosso oceano, mas não cegamos o olhar aos rios que possivelmente estejam dispostos a se unir em nossa correnteza emocional, estarmos atentos a estas nuances é importante, a vida nos mostra através das vivências que à vezes, quer seja oceano, quer seja rio, chegue à determinada planície ou montanha, o solo destas podem não estar precisando deste nutriente no momento, ou até mesmo não esteja preparada para suportar tamanha onda de entrega, até mesmo, se cultivando algum "sistema" específico, para melhor aproveitamento e crescimento, é um solo mais seco que propiciará esse resultado.  Sob os véus da noite, é que estão os "orvalhos" de cada pessoa não sabemos nem das nossas "pororocas" internas, dadas as flutuações emocionais que vivenciamos, o que nos dificulta essa compreensão no outro? Talvez ela não esteja no "ciclo" de doar ou receber da mesma forma. Há quem simplesmente tenha uma forma diferente de expressar afeto ou gratidão. Sem mencionar os ciclos de defesa, ora, o "terreno" do outro pode ter barreiras invisíveis que impedem a água de fluir.

É importante observarmos a sutileza da linha em que a doação se torna uma "troca" seja de afeto, de atenção, de reconhecimento, ela perde sua pureza. Entendo que é deveras desafiador o ato de doar sem esperar e a autonomia da Alma no exercício do ato de desapego  na doação se apresenta como uma virtude quase que transcendental, pois continuar a desaguar sem condicionar o fluxo à forma do terreno exige um profundo autoconhecimento e um desapego do resultado que os corações desejosos de afeto mais que sangue para bombear ao corpo suplicam...Fato é Caríssimo leitor, é que a nossa alma (nosso "oceano") não depende da resposta externa para ser vasta e cheia. A doação é um ato de liberdade pessoal, não de barganha. E essa compreensão nos liberta da frustração e do ressentimento nos permitindo que essa nossa disposição de nos doarmos se mantenha em sua plenitude, sem nos esvairmos na expectativa de um retorno que pode não vir. 

'DA JANELA DO MEU OLHAR' O equilíbrio e a gratidão no desaguar reside na beleza do fluxo contínuo, assimilar essa premissa e nos permitirmos sentir, tão somente sentir, por sermos capazes de sentir amor por si só já seria a paga de existirmos com essa essência tão Sublime quanto opressora, pois a vida é um eterno desaguar e absorver, em diferentes ritmos e formas. A nossa riqueza está em termos um oceano interior capaz de transbordar, independentemente da forma como a água é recebida ou não! E carregar esse entendimento nos fortalece sem a necessidade de afirmarmos, principalmente, a famigerada frase que não faz mais que traduzir uma frustração de um ego não lapidado com o desejo de equivalência que jamais será alcançada: "Foi livramento". PS:  Quem garante que na verdade foram os "astros" livrando aquela planície ou montanha do tsunami devastador que somos nós?


E Da Janela do seu Olhar?

E você, como tem vivenciado o seu próprio desaguar? 

Quais rios e oceanos fluem da sua alma sem exigir que o terreno se transforme em espelho?

Até breve...

J.L.I Soáres

terça-feira, 8 de abril de 2025

MANIFESTO

Escória da vaidade, envolve o viscoso manto da alma,

E vomita em feeds, a ânsia oca da sórdida salma!

Um ego voraz, em convulsão, uivando por espúrios traços,

Enquanto o espírito definha nos resíduos pútridos dos falsos laços.


No glacial clarão do écran, seres se perdem.

Egóicos gélidos a essência em fragmentos no abismo verdem.

Insaciáveis, dedos famintos no árido vazio a se exaltar.

Trocando o sentir profundo por um pio, um brilho vulgar, um falso Altar.


Meu verso, "minha forma mais pura de me entregar", de um apreço profundo,

Tornou-se ferramenta de validação, moeda em teu mercado nundo!

Tropeçou a beleza em teu olhar de aço. Um marco!

E Minh 'alma sangrou no escárnio do teu sentir parco.


A retroalimentar- se de espectros itinerantes, “deuses” tal qual sepulcros caiados.

E a profundidade jaz, esquecida e fria, pelo egoísmo guiados.

Troca-se o elo verdadeiro, por exaltações vazias.

Entorpecem seu Ser, no desvario do eco das fugazes melodias.


Que abismo reside nessa inspiradora máscara pia?

Que abjeção torpe te arrasta nessa nefasta vadia?

Usurpas o afeto e em sua nobreza mumificada, profanas o sentir

Face ao teu reflexo, te permites sentir?

                                                                           (J.L.I Soáres)



NOTA DA AUTORA: Quando a Arte Encontra a Vida Real

Caríssimo(a) leitor(a),
Permita-me uma última ponderação sobre os versos e a reflexão que acabaste de ler. É natural, em momentos de desabafo e de busca por clareza, que a arte se manifeste de forma visceral. O 'Manifesto' que compartilhei é, acima de tudo, um espelho das minhas próprias expectativas e frustrações com relação à pureza da doação e à sacralidade da minha obra de arte. Ele nasce de uma dor que é intrínseca a quem se entrega verdadeiramente a algo, seja um sentimento ou uma criação.

Minha intenção jamais foi a de criticar o caráter de qualquer indivíduo. Reconheço que cada ser, em sua jornada e em seu grau de consciência, manifesta-se e reage de formas diversas. A dinâmica que inspirou este poema é, em si, um reflexo do complexo universo das relações humanas, onde expectativas e realidades nem sempre se alinham.

Entendo, com serenidade, que a postura alheia — por mais que não ressoe com o que considero a forma mais ideal de expressar carinho, respeito ou admiração — é uma escolha do outro. E como Ser humano que sou, com todas as minhas próprias imperfeições, compreendo que nem sempre a resposta do 'terreno' está à altura da 'onda' que flui do 'oceano'.

Este 'Manifesto' é, em sua essência, um desabafo. Um desabafo sobre minhas próprias projeções e idealizações da reciprocidade e do reconhecimento da arte. Ele não se coloca acima de ninguém, mas busca em versos uma forma de processar a minha vivência e de reafirmar o valor da doação em sua essência mais pura.

Que cada um de nós possa encontrar a leveza em desbravar seus próprios oceanos interiores, aceitando que a verdadeira arte, seja ela da vida ou da palavra, floresce na autenticidade, mesmo quando confrontada com as dissonâncias da existência.

Com respeito e convite à reflexão,

J.L.I Soáres


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Soneto da IN-Sanidade

terça-feira, 15 de outubro de 2024

INSANO ARBÍTRIO A MORRER COM O PIOR VENENO!


Soneto  da IN-Sanidade

O Amor, das doenças o mais destruidor;

Sem remédio ou dose exata, o sentir que mata,

Aos poucos, por querer sem ter ou tendo a prata,

A cada nó que desata, noutro laço há doce sabor.

 

E no silêncio, a baixar o índice glicêmico,

A cada entrega, um fugaz viver, um amputar,

De partes de nós, eterno e intenso experimentar;

O amargo do doce, na bebida de arsênico.


Sentir cruel, tirano na dor, a cor da ida,

Mas sem ele, o existir não é pleno,

Sanidade? Segundo plano, meia vida.

 

Mas ao menor aceno, o vício, o desejo, Benzeno,

Pela louca ânsia, na busca do melhor da vida:

Insano arbítrio a morrer com o pior veneno!


Até Breve...

J.L.I Soáres


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