As performances da iluminação e a autenticidade da fé em nossa jornada de autoconsciência
Como andarilhos curiosos em meio às múltiplas vias de desenvolvimento pessoal e espiritual, temos a oportunidade de observar dinâmicas singulares. É como se a busca pela autoconsciência se desdobrasse em um grande palco, onde a complexidade da psique humana e os desafios do despertar se revelam em atos, por vezes, curiosos e quase teatrais. Nessas arenas, a distinção entre a forma e a essência do processo pode se tornar sutil, mas é crucial para quem busca a verdade.
Em alguns desses ambientes, observamos uma dualidade intrigante nos papéis. De um lado, surgem instrutores e líderes com uma persona que por vezes beira o transcendental. Com um olhar que se pretende 'cristalino', uma postura serena e uma voz que parece embalar a alma, eles se apresentam como faróis de sabedoria, personificando uma compreensão e uma paz quase etérea. É um 'ar' de quem detém o mapa da iluminação, projetando uma imagem de pura 'luz' e compaixão.
Do outro lado do palco, encontramos os alunos, os 'buscadores', que, em uma condição de vulnerabilidade, por vezes se posicionam em um 'jardim de infância' espiritual, na expectativa de serem guiados pela mão rumo a uma verdade absoluta. Há uma entrega, sim, mas também a esperança de que a transformação venha de fora, de que a 'chave da iluminação' lhes seja entregue sem o próprio labor. Essa dicotomia entre o 'mestre' idealizado e o 'aluno' que se infantiliza cria um terreno fértil para projeções e autoengano coletivo. Uma dinâmica que, 'DA JANELA DO MEU OLHAR', nos convida a indagar: será que a busca pela autenticidade se manifesta mais como performance do que como uma transformação profunda e integrada do Ser?
A vivência nos confronta com a distinção entre forma e essência, especialmente no que tange à fé aplicada. Observamos cenas que se repetem e que provocam uma reflexão sobre o sentido que damos ao 'templo' e à 'santidade'. Pessoas em situação de vulnerabilidade buscam auxílio nas escadarias das igrejas, vendo o templo como um ponto estratégico para a subsistência, não um local para a súplica divina. Isso nos lembra que a essência do 'templo' transcende as paredes físicas; ela reside em nós e, em especial, no cuidado com o outro.
A questão da vestimenta é outro exemplo dessa dualidade. Há quem se recuse a adentrar um espaço sagrado por não estar com o traje 'apropriado', perdendo a oportunidade de um momento de prece. Qual fé é mais autêntica: a que se prende à forma ou a que, talvez sem o 'traje ideal', vive a essência da compaixão? A busca por uma 'roupagem teatral' ou uma performance de santidade pode, por vezes, ofuscar a beleza de uma fé mais simples, mais nua, mais real, que se manifesta nos atos de caridade e na compaixão que se estende para além dos rituais. É o reconhecimento de que a verdade se manifesta sem necessidade de exibicionismo.
Como seres sociais, transitamos, sim, pelo 'teatro das máscaras' da vida. Adaptamos nossa 'face' a cada contexto: empresário, advogado, pai, mãe. Essa adaptação é natural e até saudável para navegar o mundo. O desafio, no entanto, surge quando a performance se torna o espetáculo principal, quando as máscaras se fundem com o rosto, e a persona, por mais 'espiritualizada' que pareça, substitui a autenticidade do Ser.
'DA JANELA DO MEU OLHAR', esses 'espetáculos' de uma santidade forçada podem causar desconforto, pois a verdade não exige tal exibicionismo. A energia gasta em sustentar esses véus é imensa e, ironicamente, mina a força que reside na vulnerabilidade autêntica. A busca pela 'miscelânea de saberes' é crucial para discernir o que é genuíno: ela nos convida a ver através das nossas próprias máscaras autoimpostas e das que nos são apresentadas, para reconhecer e valorizar aquelas manifestações simbólicas que buscam revelar uma centelha da verdade maior. A jornada, então, consiste em transitar do uso de máscaras 'para se esconder' para uma existência onde nossas expressões e papéis se tornem cada vez mais transparentes à nossa essência, revelando, em vez de ocultar, a complexidade que nos compõe em nossa humanidade integral.
Em nossa busca contínua por autoconsciência, o convite é para uma observação atenta do palco onde o despertar se encena. Que possamos discernir entre a melodia que embala e a verdade que liberta, cultivando a humildade de reconhecer a própria jornada e as próprias imperfeições. A real sabedoria, afinal, reside na congruência entre o ser e o agir, no desvelamento da alma e na coragem de viver a própria verdade, sem a necessidade de performance ou de aprovações externas.
Nessa complexa jornada de autoconsciência, onde a busca pelo despertar se confronta com as performances e as expectativas, a verdade sobre o que somos e o que aparentamos ser clama por ser desvelada. A distinção entre a forma e a essência, entre o 'mostrar' e o 'ser', torna-se um desafio constante. É nesse ponto que a arte, em sua crueza e beleza, oferece um espelho implacável.
Para uma reflexão ainda mais visceral sobre os véus que vestimos e as verdades que por vezes ocultamos em nossa busca, convido você a mergulhar nos versos de 'Máscara Divina'. Este poema, que também faz parte da minha obra 'Da Janela do Meu Olhar', é uma constatação poética sobre a hipocrisia que, por vezes, se disfarça de santidade, e a forma como a aparência pode reinar sobre a essência, ofuscando o amor e a genuína doação.
Máscara Divina
No altar da fé, a alma se veste,
Em manto de virtude, a voz se
ergue em prece,
A mão se estende, a doação se
manifesta,
Mas a forma se distorce, a
essência se detesta.
O verbo divino ecoa em palavras
belas,
Mas em si, se fecha em ganância
e cautelas.
A caridade se veste de pompa e
exibição,
Esmola aos olhos do mundo,
jamais ao coração!
A fé se torna máscara, a
virtude, ilusão,
A doação, é moeda de falsa
redenção.
O irmão, semelhante, anseia por
compaixão,
Mas recebe migalhas, desprezo e
ostentação.
A hipocrisia tece um véu de
santidade,
Onde a aparência reina, o amor
se evade...
A forma não reflete a devoção,
É raso o que professa,
transborda em contradição
(J.L.I Soáres)
E 'Da Janela do seu Olhar';
Em sua própria jornada de despertar, você tem percebido a 'voz melodiosa' de mestres ou a 'vulnerabilidade infantil' em alunos?
Como você tem discernido a 'forma' da 'essência' em sua fé e em suas práticas de autoconhecimento?
Em que medida as 'máscaras' que você veste no dia a dia revelam ou ocultam a sua mais profunda autenticidade?
Até breve...
J.L.I Soáres
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